III Encontro Nacional de Linguística Aplicada

ST17 – Racialização como fato de linguagem: estudos em linguística da enunciação e em educação linguística

Coordenação:Kizy dos Santos Dutra (UNISINOS)Silvana Silva (UFRGS) Os estudos sobre raça e racismo têm se expandido das áreas da Sociologia, Filosofia, Direito e alcançado a área dos Estudos da Linguagem. A Linguística, como diz Trabant (2021), tem uma função importante na descolonização de pensamentos e saberes linguísticos herdados. Contribuindo para o enfrentamento do racismo em seus marcos legais e jurídicos já estabelecidos (notadamente a Lei nº 10.639, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para incluir a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira na educação básica), a Linguística tem ainda muitos estudos a fazer tanto no campo da descrição e análise linguística e o consequente desvelamento de formas menos visíveis de racismo quanto para a proposta de práticas educativas e, portanto, escolares antirracistas. Entendemos, por exemplo, que os trabalhos de Gabriel Nascimento (2019; 2021; 2023) bem como o trabalho de Flores e Severo (2023) contribuem para a primeira tarefa da Linguística e os trabalhos de Lírio (2021, 2022) e Rezende (2024) contribuem para a segunda. Como diz Nascimento (2019), “o termo racialização se refere a uma estrutura de significado que originalmente só pode existir enquanto enunciação” (p. 100, grifos nossos). Citando mais adiante o linguista Émile Benveniste, articula a Teoria dos Pronomes a uma estrutura linguística que produz referência no mundo e, portanto, traz consequências para a sociedade e para a linguagem. Nesse sentido, indicamos como essencial nessa elaboração teórica os seguintes textos de Benveniste: “Estrutura da língua, estrutura da sociedade”, “Semiologia da língua” e “O aparelho formal da enunciação”, todos publicados no volume II dos Problemas de Linguística Geral. Dessa forma, este Simpósio espera receber trabalhos que se proponham a descrever e a analisar práticas sociais e textos de cunho racista e antirracista bem como trabalhos que se debrucem sobre propostas pedagógico-linguísticas de enfrentamento do racismo nas Escolas da Educação Básica e do Ensino Superior. Palavras-chave: Racialização, Racismo, Linguística da Enunciação, Língua e Sociedade, Educação Linguística.

ST16 – Argumentação e retórica: enfoques teóricos, metodológicos e analíticos

Coordenação: Deywid Wagner de Melo (PPGLL/UFAL)Max Silva da Rocha (PPGEL/UFPI) Investigar de que modo os textos e/ou os discursos convencem, persuadem, modificam crenças, orientam visões de mundo, entre outras finalidades, é a grande tarefa dos estudos argumentativos de base retórica na contemporaneidade. A retórica, enquanto disciplina milenar, surgiu em meio às disputas por terras e foi nesse âmbito que o ensino da argumentação começou a ser praticado pelos mestres sofistas, considerados os grandes impulsionadores da retórica. São mais de XXV séculos desde o surgimento da arte de convencer e persuadir pelo discurso. Atualmente, temos uma teoria com sólido instrumental teórico, metodológico e analítico, capaz de descortinar as artimanhas persuasivas de diferentes atos linguageiros. Para tanto, tomamos como base teórica os postulados de alguns autores, a exemplo de Amossy (2020), Aristóteles (2011), Charaudeau (2018), Ferreira (2015), Fiorin (2017), Mateus (2018), Melo (2013), Meyer (2007), Morais (2019), Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014), Reboul (2004), Rocha (2025), entre outros. A própria argumentação ganhou força e se apresenta como um outro campo do saber. De nossa parte, importa considerar a argumentação numa perspectiva retórica, tomando ambas as teorias como duas faces da mesma moeda. Assim sendo, temos como principal objetivo propiciar uma discussão acerca de fenômenos argumentativos e retóricos presentes em textos e/ou discursos de diferentes domínios de práticas linguageiras, a exemplo do campo digital, midiático, jurídico, educacional, jornalístico, literário, religioso, político, entre outros. Para isso, em nosso simpósio temático, aceitaremos trabalhos que, de alguma maneira, dialoguem com a presente proposta, podendo manter interface com outras disciplinas, tais como Análise Crítica do Discurso, Teoria Semiolinguística, Teoria da Argumentação no Discurso, Análise da Conversação, Linguística Textual, Teoria e Análise de Gêneros, entre outros pressupostos epistemológicos. Diante de várias possibilidades teóricas, metodológicas e analíticas, pretendemos reunir pesquisadores e pesquisadoras de diferentes universidades do Brasil e do exterior, para que possamos fazer avançar os estudos e as pesquisas em nossa área disciplinar. Palavras-chave: Argumentação, Discurso e texto, Persuasão, Retórica.

ST15 – Literatura, outras artes e sociedade no Brasil contemporâneo (pós-1960)

Coordenação: Gabriel Provinzano (UFG)João Vitor Rodrigues Alencar (IFPA) Embora tenham coexistido e estejam intimamente relacionados, os processos de formação do Brasil e de sua literatura não se fizeram sem tensões e desencontros. Em Formação da literatura brasileira, Antonio Candido (2000) apresenta a história dos brasileiros (especialmente, das classes mais altas) em seu desejo de possuírem uma literatura, analisando os momentos decisivos desse processo de constituição de um sistema envolvendo autores, obras e públicos por meio da adaptação de formas artísticas tomadas de outros países à realidade nacional. Esse processo de formação do sistema literário se consolida com a obra madura de Machado de Assis, que retoma temas e motivos de seus antecessores, sem recair no exotismo, mas conferindo-lhes universalidade. Paralelamente a esse processo de superação literária (que ocorre antes do fim da escravidão), como notou Roberto Schwarz (2014), o país se mantém distante no plano social dos parâmetros mínimos de cidadania das nações das quais importava suas formas artísticas. Entre 1920 e 1970, esse quadro prático e ideológico que caracteriza a relação entre a literatura e o país passou por diversas reformulações que podem ser sintetizadas em algumas tendências identificadas por Candido (1989, 1999), como a ausência de debates políticos a orientar a escolha que os artistas fazem de seus materiais; a preponderância da experimentação do discurso em detrimento da representação da realidade local; e a desestruturação dos limites que caracterizavam os diferentes gêneros e linguagens. Interessado nessa complexa trama artística e histórica, o objetivo deste simpósio é acolher trabalhos, fundamentados em abordagens teóricas diversas (que não precisam seguir as diretrizes que embasam esta proposta) que, debruçando-se sobre obras publicadas depois de 1960, busquem compreender a relação das artes entre si e/ou com a sociedade, perguntando-se especialmente sobre dinâmicas e impasses da realidade nacional. Além da literatura, serão aceitos trabalhos sobre obras musicais, teatrais, cinematográficas e das artes plásticas, mesmo que internacionais, desde que fique clara sua relação com a matéria brasileira, preferencialmente, articulada com o andamento do mundo. Palavras-chave: Literatura e sociedade, Literatura brasileira contemporânea, Literatura e outras artes.

ST14 – (Re)visões do Nordeste: permanências e rupturas no regionalismo a partir da literatura brasileira contemporânea

Coordenação:Alan Brasileiro de Souza (SECBA / UnB)Janara Laiza de Almeida Soares (UNEB – DLLARTES) No conjunto da literatura brasileira, a representação da região que hoje nomeamos como Nordeste constitui um tópos demarcado desde as primeiras manifestações escritas do século XVI, produzidas pelos cronistas das Grandes Navegações. Contudo, a ocupação desse espaço pela literatura se dá de maneira consistente apenas no século XIX, no bojo do regionalismo romântico. Não é forçoso considerar que a inscrição do Nordeste na literatura romântica possui como pano de fundo o que Albertina Vicentini (2008) identifica como “caráter performativo de apresentação e uma identidade grupal” (Vicentini, 2008, p. 188). Assim, textos como O cabeleira de Franklin Távora (1876), ao investirem sobre a representação dos fatos, da vida e da cor local nordestina, tencionam demonstrar aspectos formadores de uma pretensa identidade regional que também serviriam para delimitar a identidade nacional. Nisto ressoa o uso de elementos temáticos e discursivos que não raro transformam os objetos capturados pelo discurso literário em meras formas exóticas extraídas da(s) cultura(s) da região. Ao longo do século XX, obras vinculadas ao chamado Romance de 30 (Bueno, 2013) deram novo fôlego e novo sentido ao que se poderia chamar de linhagem regionalista nordestina. Em “A nova narrativa”, Antonio Candido (2017), considerando a obra de escritores como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e José Lins do Rego, identifica no decênio de 1930 uma transformação do velho regionalismo romântico pelo chamado “romance do Nordeste”, “ao extirpar a visão paternalista e exótica, para lhe substituir uma posição frequentemente agressiva, não raro assumindo o ângulo do espoliado” e lançando mão de uma linguagem calcada no realismo literário (Candido, 2017, p. 246-247). Embora o Romance de 30 tenha se fixado como uma espécie de linha-guia na literatura nacional, autores nordestinos contemporâneos como Cristhiano Aguiar, Itamar Vieira Junior, Jarid Arraes, e Luna Vitrolira buscam firmar-se no quadro da literatura brasileira sem convocar para si a incumbência de levar adiante o rótulo regionalista. Em lugar disso, intentam ocupar, para utilizar a metáfora de Vicentini (2008), o espaço nordestino de outras maneiras, seja pela apresentação de enredos, questões e temas que procuram superar as marcas da identidade local e do (neo)realismo, seja pelo questionamento de uma possível redução de suas obras ao espectro espacial, seja pela abertura do signo literário a outras linguagens, mídias e tradições. Partindo dessa compreensão, este simpósio pretende reunir trabalhos que buscam analisar obras (em prosa ou poesia) da literatura brasileira contemporânea considerando as maneiras como o regionalismo é utilizado ou desconstruído como ferramenta para a representação do Nordeste pela literatura. Palavras-chave: Literatura Brasileira, Literatura Contemporânea, Regionalismo, Nordeste, Representação.

ST13 – Linguística Textual e Ensino de Língua Portuguesa: teoria e prática em contextos multimodais

Coordenação:Isabel Muniz-Lima (Fale/UFAL/Protexto/Getel)Fábio André Cardoso Coelho (UFF/Thelpo/Gepelt) Este simpósio tem como objetivo reunir pesquisas na área da Linguística Textual e suas aplicações para o ensino de Língua Portuguesa, promovendo um diálogo entre teoria e prática com foco em estudos que abordem práticas em contexto digital, com foco na multimodalidade. Serão aceitos trabalhos que se debruçam sobre uma análise linguístico-textual, voltada para observar os fatores de textualidade evidentes em textos diversos com o objetivo de investigar como as especificidades dos diferentes modos de interação digital e da multimodalidade podem ser produtivamente utilizados nas aulas. Podem ser submetidas pesquisas as quais exploram atividades pedagógicas que integram aspectos semânticos, pragmáticos e interacionais, contribuindo para o desenvolvimento das diferentes habilidades textual-discursivas dos estudantes. O objetivo central desta proposta é reunir estudos que se voltem para as categorias do texto, enfatizando, entre outras, como a referenciação, as intertextualidades, a argumentação, o gênero, as sequências textuais, a organização tópica podem ser trabalhadas em aulas de Língua Portuguesa considerando as especificidades da interação em contexto digital e a multimodalidade. Neste simpósio, os professore(a)s/pesquisadore(a)s são convidado(a)s a apresentarem trabalhos que se fundamentam, entre outros autores da Linguística Textual, nos estudos de Beaugrande e Dressler (1981), Marcuschi (2008, 2012), Koch (2004), Koch e Elias (2006, 2011), Koch e Fávero (2000), Cavalcante (2014), Antunes (2005, 2017), Batista (2016), Bakhtin (2016) e Kress e Van Leeuwen (2001, 2006, 2010). Ainda, são aceitos trabalhos que explorem a compreensão e a produção textual em contextos digitais, abordando o texto como um enunciado singular em situações enunciativas simuladas e analisando a relação entre níveis de interatividade e a construção de referentes (Cavalcante et al. (2022), Muniz-Lima (2024), Custódio-Filho (2016), Matos (2016), entre outros). Pesquisas envolvendo estudos sobre texto, discurso, leitura, escrita, letramento, cognição, desde que com foco em práticas digitais e na multimodalidade, são igualmente bem-vindas. As pesquisas voltadas para este simpósio podem estar vinculadas, portanto, a uma observação de como os diferentes sistemas semióticos se combinam para colaborar na construção de sentidos dos textos que circulam em contexto digital. Em suma, este simpósio integra análises teóricas e práticas, no âmbito da Linguística Textual, com o objetivo de evidenciar possibilidades para o ensino de Língua Portuguesa em contexto digital, com foco na multimodalidade. Palavras-chave: Linguística Textual, Multimodalidade, Interação Digital, Ensino de Língua Portuguesa.

ST12 – Educação Literária: produção, seleção e experiências com obras na escola pública

Coordenação:Clecio dos Santos Bunzen Júnior (UFPE)Eliana Kefalás Oliveira (UFAL) Nos últimos anos, uma série de discussões sobre como selecionar e mediar obras literárias nas escolas públicas têm ganhado destaque na formação inicial e continuada de professores, com destaque para as pesquisas no âmbito do Mestrado Profissional em Letras. Tal contexto recente coincide também com a extinção do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) e com a fabricação do PNLD-Literário, uma política pública que envolve processos complexos de produção, avaliação e escolha de obras literárias. O presente simpósio temático pretende discutir justamente os processos de circulação de obras literárias na escola, com destaque para a agentividade docente na realização de escolhas de obras específicas. Ao levarmos em consideração que as propostas curriculares, a BNCC e o ENEM não indicam obras específicas para leitura, a discussão sobre como as obras são escolhidas e quais experiências são realizadas nas escolas faz-se necessário para uma melhor compreensão das práticas de letramento com a literatura no contexto escolar. Por isso, é importante a realização de pesquisas, no campo da Linguística Aplicada e dos Estudos Literários, que se interessem por analisar: (i) programas e projetos de leitura específicos; (ii) seleção de obras no âmbito de políticas públicas; (iii) critérios de seleção de obras de diferentes gêneros e formatos; (iv) processos de mediação e de experiências com obras literárias específicas. Espera-se assim colaborar com a ampliação de estudos sobre os critérios de escolha das obras literárias utilizadas por docentes em diferentes contextos e atuação, assim como sobre a recepção de tais obras em comunidades de leitura específicas. O simpósio almeja receber contribuições de diferentes campos de reflexão (letramento literário, educação literária, leitura subjetiva, didática da literatura) que colaborem para uma melhor compreensão da bibliodiversidade e dos processos de mediação que ocorrem nos diferentes cenários da escola pública. Ao focalizar a experiência literária com o uso de diferentes obras, a apreciação estética e ética com crianças, jovens e adultos (cf. Andruetto, 2017; Bajour, 2012, 2023; Cosson, 2021; Zilberman e Rösing, 2009), este simpósio espera reunir investigações sobre a mediação em sala de aula com o texto literário, análise de políticas públicas, análise de projetos e experiências com obras literárias nos contextos educativos escolares, especialmente nas aulas de língua materna e estrangeira. Desta forma, acreditamos que podemos construir um diálogo fértil que busque (re)construir modos de pensar a educação literária no campo da Linguística Aplicada e dos Estudos Literários realizada no Brasil. Palavras-chave: Educação Literária, Experiência literária, Critérios de seleção.

ST11 – Ensino de literatura e linguística aplicada: interseções

Coordenação:Adriana Nunes de Souza (IFAL)Rosangela Nunes de Lima (IFAL) Este simpósio aceitará trabalhos que discutam o ensino de literatura sob a perspectiva da linguística aplicada. Educar para o letramento e a formação do leitor têm sido uma constante indicação nos documentos oficiais que orientam os projetos pedagógicos das escolas de Ensino Básico, assim como enfatizam o papel das Licenciaturas enquanto formadoras de professores da Escola Básica. Desse modo, somos solicitados a ultrapassar os muros da Academia, cumprindo o nosso papel social de inserção efetiva na comunidade. Os benefícios alcançados são compartilhados entre a comunidade que recebe o trabalho e os alunos da Universidade, que, ao vivenciarem o cotidiano das escolas, aprimoram a sua formação enquanto professores. No caso específico da Literatura, é importante ressaltar que a leitura deve ser encorajada. Adultos mais reflexivos, criativos e críticos são o resultado de um trabalho que deve iniciar-se bem cedo na vida das pessoas. Sendo a leitura e o letramento temas constantes das preocupações dos docentes da Educação Básica, o simpósio discutirá o ensino e a aprendizagem da literatura (Cosson, 2014), associando a problemática da leitura e do ensinar aos estudos do letramento literário (Cosson, 2009), dos multiletramentos (Rojo & Moura, 2012) e/ou do letramento crítico (Monte-Mór, 2015). Adotando, portanto, uma perspectiva multidisciplinar da pesquisa em linguística, os trabalhos poderão versar sobre a prática docente, sobre a análise da literatura nos materiais didáticos para a Educação básica (módulos, livros didáticos, apostilas etc.), sobre as estratégias de ensino e de aprendizagem da literatura, sobre a formação do leitor ou sobre as teorias ligadas ao tema do simpósio. Os trabalhos devem relacionar-se a uma reflexão acerca da docência, da prática pedagógica, das práticas sociais da leitura e do papel do professor de literatura numa perspectiva que discuta o ensino de literatura associado ao valor social e político da leitura, que “não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo” (Freire, 2021). Tal concepção de leitura associa-se ao letramento literário, em que ensinar, considera o contexto da escola e não apenas ela, permite identificar e questionar os “protocolos de leitura, afirmando ou retificando valores culturais, elaborando e expandindo sentidos” (Cosson, 2014). Sob esse cenário, o trabalho com a leitura e o letramento literário pode ser associado ao letramento crítico ao elucidar temáticas emudecidas socialmente pela colonialidade, tornando o ensino de literatura uma contribuição para transformar o silenciamento de questões cotidianas opressoras, evitando desigualdades sociais (Monte-Mór, 2015). Palavras-chave: Ensino de literatura, Educação Básica, Linguística Aplicada, Multiletramentos, Leitura literária.

ST10 – A Proposta Multirrede-Discursiva no ensino-aprendizagem de línguas: subsídios para o trabalho docente

Coordenação:Yamilka Rabasa (UnB) A Proposta Multirrede-Discursiva (MR-D) foi desenhada e aprimorada por Silvana Serrani na Unicamp. Em 2005, com reimpressão em 2010, a proposta, denominada de Multidimensional-Discursiva, foi divulgada em um instigante livro em que Serrani aborda e fundamenta, com rigor teórico, as bases convocadas na elaboração da Proposta: a Linguística Aplicada, os estudos discursivos, os estudos da aquisição de línguas, do inconsciente e os teórico-literários. Em 2020, a proposta passou a adotar o nome multirrede, para indicar a “perspectiva reticular” que a caracterizaria. Na Proposta MR-D, “Propõe-se o trabalho com redes de discursos, que tematicamente girem em torno de um tópico cultural específico. A finalidade dessa rede é que diferentes posições de sentido sejam mobilizadas em relação aos conteúdos socioculturais de ensino em foco” (Serrani, 2020, p. 266). A MR-D está constituída por três componentes: o Componente Intercultural permite que contextualizemos os materiais no que diz respeito aos territórios, espaços, momentos histórico-culturais e grupos sociais contemplados, além de se observar a diversidade cultural considerando o contexto de partida e o de chegada; o Componente Língua-discurso e gêneros discursivos diz respeito aos conteúdos do sistema da língua enfocados a partir da compreensão discursiva da linguagem e aos gêneros discursivos em que se inscrevem (Bakhtin, 2011); o Componente Práticas de linguagens em oficinas multirrede-discursivas corresponde ao planejamento das práticas de audição, leitura, produção escrita, produção oral e tradução, porém, articulando os componentes anteriores. A MR-D permite abordar, de forma não banalizada, dimensões socioculturais, em articulação com conteúdos de língua-discurso, que possibilitem uma educação humana e crítica para pensar e (quem sabe?) mudar o estado de coisas atual. A partir de uma formação transdisciplinar, o professor multirrede-discursivo pode, ao mobilizar os critérios MR-D, analisar livros didáticos e materiais paradidáticos, selecionar textos em diversas linguagens para complementar o livro didático, planejar atividades, aulas e cursos de línguas. Assim, neste simpósio, convocamos professores, estudantes e pesquisadores da área para compartilharem suas experiências e pesquisas no que diz respeito a: metodologias de ensino, planejamentos de aulas e de cursos, relatos de práticas docentes e propostas teóricas que foquem na formação de professores e no ensino-aprendizagem de línguas desde perspectivas interculturalmente críticas, que concebam a língua como “um objeto complexo” (Revuz, 2016) para além de “um mero instrumento a ser dominado” (Serrani, 2010), comprometidos com uma educação para a emancipação (Freire, 2019). Que este simpósio possa ser o embrião de profícuas discussões atentas aos desafios da realidade da educação no Brasil hoje. Palavras-chave: Ensino-aprendizagem de línguas, Proposta Multirrede-Discursiva, Materiais didáticos, Cultura, Língua-discurso.

ST09 – Produção textual e ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa: abordagens teórico-metodológicas da atividade metalinguística à luz da Genética Textual

Coordeção:Mauri Célio Alves Santana (UFAL)Rosiene Omena Bispo (Seduc/AL) Este simpósio temático visa a reunir trabalhos voltados ao ensino e à aprendizagem de Língua Portuguesa no contexto da escrita colaborativa, com base em fundamentos da Genética Textual (GT) e da Linguística Enunciativa. A proposta parte da compreensão do texto como um processo em curso, e não como mero produto final, priorizando a observação da escritura em ato, na qual rasuras gráficas e orais (apagamentos, acréscimos, substituições, deslocamentos) revelam operações cognitivas e metalinguísticas relevantes para o aprendizado da língua. A Genética Textual, inicialmente ligada à Crítica Literária (Fabre, 1986, 1990), passou a ser aplicada aos manuscritos escolares (Calil, 1998, 2016), ampliando as possibilidades de análise dos processos de escrita em contextos reais de sala de aula. A partir dessa perspectiva, os borrões, hesitações e reformulações durante a produção colaborativa do texto ganham status de objetos de análise, permitindo compreender como os sujeitos refletem sobre a linguagem durante a escrita. Nesse contexto, destacamos o papel da atividade metalinguística, compreendida como ação reflexiva, consciente ou não, sobre a língua (Camps et al., 1999, 2000, 2005; Culioli, 1990), particularmente em sua relação com o ensino da gramática. A escrita colaborativa oferece terreno fértil para essa atividade, pois o confronto de ideias, a necessidade de negociação linguística e a verbalização de conflitos podem revelar não apenas o que os estudantes sabem, mas como eles pensam sobre a linguagem. Dessa forma, este simpósio acolherá estudos concluídos ou pesquisas em andamento que focalizem práticas de produção textual em situação colaborativa, observando especialmente as interações face a face entre alunos e/ou entre professor e alunos, em que emergem comentários metalinguísticos relacionados a aspectos linguísticos, gramaticais, textuais, semânticos ou pragmáticos. Pretende-se, com isso, fomentar discussões que contribuam para o avanço das investigações sobre a aprendizagem da Língua Portuguesa, sobretudo em sua dimensão processual e dialógica. Palavras-chave: Genética Textual. Atividade metalinguística. Ensino de Língua Portuguesa. Escrita colaborativa. Manuscrito escolar.

ST08 – Lingua(gem) como ação afirmativa na escola: contribuições da linguística aplicada para o ensino crítico de nossa língua materna, a Língua Portuguesa

Coordenação:Maria Teresa Tedesco Vilardo Abreu (UERJ)Hilma Ribeiro de Mendonça Ferreira (UERJ) Que tempos estamos vivendo! Que tempo de mudanças!! De reflexões! Essas mudanças precisam ser vistas, de forma crítica e reflexiva. Precisamos fazer com que as novas gerações entendam as mudanças sociais que estamos vivendo, sem considerar que (as mudanças) representam uma ilha social, que afetam somente um bairro, uma família, um grupo social. Parte-se da premissa de que a escola tem como função precípua construir reflexão – crítica, ampliando o conhecimento dos estudantes. Especificamente, as aulas de língua materna contribuem, sobremaneira, para este desenvolvimento sobre a vida, suas mudanças e o entendimento acerca dos diferentes contextos sociais em que as mudanças ocorrem. Para tanto, há de se pensar em currículo que, efetivamente, contribua para essa construção de identidade(s) dos diferentes sujeitos. Nosso foco principal é que leitura, escrita e análise linguística, pilares básicos das aulas de língua portuguesa, são instrumentos fundamentais para a construção deste sujeito crítico e reflexivo, pois o pleno domínio da língua é condição para o “agir no mundo”, desenvolvendo capacidade (s) de gerir conhecimentos em todas as áreas e com isso saber fazer escolhas ao longo de sua vida, em qualquer das esferas discursivas em que esteja inserido. Neste sentido, este simpósio visa a receber pesquisas que discutam, teórico-metodologicamente, ações didáticas relativas ao ensino de língua materna, em qualquer nível de escolaridade, que aliem o processo de aprendizagem da língua, embasado nos contributos da linguística aplicada, a ações afirmativas que resultem em discussões sobre práticas identitárias, sejam étnico-raciais, sejam de outra natureza, em abordagens textuais e discursivas. Palavras-chave: Ações afirmativas, Ensino de Língua Portuguesa, Linguagem, Processos de ensino e de aprendizagem.