III Encontro Nacional de Linguística Aplicada

ST14 – (Re)visões do Nordeste: permanências e rupturas no regionalismo a partir da literatura brasileira contemporânea

Coordenação:
Alan Brasileiro de Souza (SECBA / UnB)
Janara Laiza de Almeida Soares (UNEB – DLLARTES)

No conjunto da literatura brasileira, a representação da região que hoje nomeamos como Nordeste constitui um tópos demarcado desde as primeiras manifestações escritas do século XVI, produzidas pelos cronistas das Grandes Navegações. Contudo, a ocupação desse espaço pela literatura se dá de maneira consistente apenas no século XIX, no bojo do regionalismo romântico. Não é forçoso considerar que a inscrição do Nordeste na literatura romântica possui como pano de fundo o que Albertina Vicentini (2008) identifica como “caráter performativo de apresentação e uma identidade grupal” (Vicentini, 2008, p. 188). Assim, textos como O cabeleira de Franklin Távora (1876), ao investirem sobre a representação dos fatos, da vida e da cor local nordestina, tencionam demonstrar aspectos formadores de uma pretensa identidade regional que também serviriam para delimitar a identidade nacional. Nisto ressoa o uso de elementos temáticos e discursivos que não raro transformam os objetos capturados pelo discurso literário em meras formas exóticas extraídas da(s) cultura(s) da região. Ao longo do século XX, obras vinculadas ao chamado Romance de 30 (Bueno, 2013) deram novo fôlego e novo sentido ao que se poderia chamar de linhagem regionalista nordestina. Em “A nova narrativa”, Antonio Candido (2017), considerando a obra de escritores como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e José Lins do Rego, identifica no decênio de 1930 uma transformação do velho regionalismo romântico pelo chamado “romance do Nordeste”, “ao extirpar a visão paternalista e exótica, para lhe substituir uma posição frequentemente agressiva, não raro assumindo o ângulo do espoliado” e lançando mão de uma linguagem calcada no realismo literário (Candido, 2017, p. 246-247). Embora o Romance de 30 tenha se fixado como uma espécie de linha-guia na literatura nacional, autores nordestinos contemporâneos como Cristhiano Aguiar, Itamar Vieira Junior, Jarid Arraes, e Luna Vitrolira buscam firmar-se no quadro da literatura brasileira sem convocar para si a incumbência de levar adiante o rótulo regionalista. Em lugar disso, intentam ocupar, para utilizar a metáfora de Vicentini (2008), o espaço nordestino de outras maneiras, seja pela apresentação de enredos, questões e temas que procuram superar as marcas da identidade local e do (neo)realismo, seja pelo questionamento de uma possível redução de suas obras ao espectro espacial, seja pela abertura do signo literário a outras linguagens, mídias e tradições. Partindo dessa compreensão, este simpósio pretende reunir trabalhos que buscam analisar obras (em prosa ou poesia) da literatura brasileira contemporânea considerando as maneiras como o regionalismo é utilizado ou desconstruído como ferramenta para a representação do Nordeste pela literatura.

Palavras-chave: Literatura Brasileira, Literatura Contemporânea, Regionalismo, Nordeste, Representação.

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