III Encontro Nacional de Linguística Aplicada

ST74 – Discurso e tensões raciais na língua(gem)

Coordenação:
Rogério Modesto (UESC)
Mauricio J. Souza Neto (IFBA)


A língua não é neutra. Vibra nos corpos, ressoa nas margens, ecoa nos silêncios impostos. A palavra carrega a tensão das histórias interrompidas, dos nomes desfeitos, dos sentidos desviados. No entrelaçar dos discursos, a racialização não é um acaso: é trama urdida pelo racismo, esculpindo identidades, limitando pertencimentos, hierarquizando humanidades. O discurso fabrica a cor que oprime, mas também a cor que resiste. A língua, ferida e ferindo, pode ser jugo ou rebeldia. O negro, o indígena, o cigano, o judeu, o amarelo – categorias forjadas na brutalidade colonial – são sujeitos que reescrevem a gramática da opressão em novos registros de existência. Onde se tentou silêncio, brotam vozes; onde se impôs apagamento, inscreve-se memória. Onde a linguagem foi violentada, surgem novas formas de enunciar o mundo. O discurso, enquanto campo de disputa, opera como ferramenta tanto da dominação quanto da resistência. O racismo se manifesta na estrutura da língua, nos enunciados que marginalizam e nos sentidos que delimitam os sujeitos dentro da ordem colonial. Mas a língua, em sua potência insubmissa, também é território de insurgência, abrindo brechas para a reconstrução de sentidos. Nesta sessão coordenada, acolheremos trabalhos que naveguem pelas correntezas da linguagem, investigando como discurso, colonialidade e resistência se entrelaçam. Buscamos reflexões que desvelem os mecanismos de invisibilização e silenciamento, mas, sobretudo, aquelas que iluminam as fissuras, os desvios e os espaços onde a linguagem insurge e reinventa. Queremos trazer para o debate as formas pelas quais a língua abriga a memória e a resistência dos sujeitos racializados. Porque a linguagem não apenas nomeia: ela reescreve histórias, reconfigura mundos e pode, enfim, libertar.

Palavras-chave: Discurso, Linguagem, Tensões Raciais, Racialização, Silenciamento.