CC08 – Educação linguística crítica: transgressão, INdisciplina e representatividade de corpos e sexualidades divergentes no contexto escolar
Coordenação:Wemerson Damasio (UFPR)Mariana Cristine Gonçalles (UFPR) A Linguística Aplicada (LA) em uma perspectiva crítica deve despir-se da concepção de que a pesquisa científica e o trabalho pedagógico trilham caminhos às margens da política e da realidade social (Rajagopalan, 2003), abrindo espaço para discussões e investigações que versem acerca de sujeitos diversos que compõem a sociedade sem que priorizemos determinados corpos em detrimento de outros (Louro, 2019). Esse posicionamento implica reconhecer que a linguagem, longe de ser um fenômeno neutro e puramente estrutural, está inerentemente ligada às relações de poder, às identidades sociais e às dinâmicas de exclusão e inclusão que permeiam diferentes contextos (Rajagopalan, 2003; Bezerra, 2023; Melo, 2024). Nessa direção, pesquisadores/as da LA (Moita Lopes, 2002; 2006; Menezes de Souza, 2019; Duboc; Menezes de Souza, 2021) têm contribuído significativamente ao questionarem paradigmas normativos e proporem abordagens transgressoras, a fim de redescrever práticas e ações injustas, violentas e de sofrimento às diferentes identidades e subjetividades que constituem os sujeitos. No campo de uma LA explicitamente identitária e sexual divergente, o da Linguística Queer (LQ), nomes como Fábio Bezerra (UFPB) e Iran Ferreira Melo (UFRPE; UFPE) destacam-se por tensionar categorias de gênero e sexualidade, desafiando concepções hegemônicas sobre identidade e subjetividade na linguagem. Esses pesquisadores, dentre outras e outros, buscam transgredir e indisciplinar (Moita Lopes, 2006) a LA, entendendo-a como uma área de pesquisa imbuída de questões políticas e emergências sociais, e, por isso, são consideradas essenciais para uma educação linguística pós-moderna, crítica, justa socialmente e inclusiva. Coadunando com os autores citados, esta proposta de comunicação busca ampliar os espaços para reflexões acerca de pesquisas que se debruçam sobre a representatividade linguística de corpos que divergem da norma estabelecida socialmente (Louro, 2019) no ambiente escolar. Considerando que a linguagem é um dos principais instrumentos de construção identitária e de posicionamento social, propõe-se fomentar um debate crítico sobre os efeitos da normatividade linguística e pedagógica na exclusão de grupos historicamente subalternizados, como pessoas negras, indígenas, LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência e outros sujeitos cujas identidades não se encaixam nos padrões hegemônicos heteronormativos, transgredindo e indisciplinando conceitos linguísticos e educacionais construídos e impostos socialmente. Além disso, a comunicação almeja discutir as limitações e desafios da representatividade linguística na escola, bem como sugerir caminhos alternativos para a construção de práticas pedagógicas que promovam o pensamento decolonial ao tratar da diversidade e da inclusão. Palavras-chave: Educação linguística crítica, linguística indisciplinar, linguística queer, representatividade, colonialidade/decolonialidade.
ST35 – A política dos corpos interditados: raça, gênero, sexualidade, identidade e discurso de resistência
Coordenação:Humberto Soares da Silva Lima (IFAL)Ana Luiza Azevedo Fireman (IFAL) Os corpos falam e (se) situam em locais e espaços onde os marcadores sociais da diferença (raça, gênero, sexualidade, linguagem, identidade, território, classe, língua e outros) são necessários para construção de processos de resistência. Não há entendimento do corpo, como ação e “performance identitária” (Butler, 2019; 2022), sem a compreensão dos marcadores sociais da diferença que determinam a ação humana, confirmando e legitimando dinâmicas sociais e políticas que se firmam aos movimentos do que entendemos como a “política dos corpos interditados”. Dessa forma, este simpósio pretende lançar mão dos marcadores sociais da diferença como estruturas identitário-políticas (Melo, 2024) que, paralelamente às relações teórico-metodológicas (Bezerra, 2023), envolvem pesquisas-vida situadas nes/as/os e peles/as/os sujeites/as/os. Em outras palavras, a partir de estudos contemporâneos interdisciplinares e contracoloniais, oriundos da década de 80 e 90 do século XX, sob a interface – linguagem (identidade), gênero e raça – problematizamos vivências e experiências de pessoas e/ou grupos socialmente vulneráveis (população LGBTQIAPN+, negros/as, mulheres, quilombolas, ribeirinhos/as, sertanejos/as, nordestinos/as, assentados/as, pcd’s, gordos/as e outros) para, assim, pensarmos em estratégias de vida as quais julgamos urgentes em contextos de pseudoconservadorismos. Assim, as demandas que incidem sobre os corpos interditados, pensando na relação corpo, sociedade, linguagem e resistência em diálogo com Louro (2014), Hall (2022), Butler (20219) e Ramos (2024), necessitam de questionamentos e evidências políticas de tal modo que possam borrar/manchar o que se entende por pensamento cisheteropatriarcal, que não se sustenta mais, diga-se de passagem. Metodologicamente, pelos vieses da pesquisa qualitativa em Linguística Aplicada (Brahim, 2024), como processo de construção do social (Moita Lopes, 2006), dialogamos com diversos métodos de pesquisa em que as discussões centram-se no caráter “processual de humano” (Bortoni-Ricardo, 2008), envolvendo a ação de pesquisadore com de pesquisade. Então, indo na contra-mão do pensamento alinhado à extrema-direita de descredibilizar identidades, corpos, pessoas, performances, gêneros, raças, sexualidades e outros, acreditamos em uma linguística social e em teorias do discurso, na dimensão política da língua(gem) (Sousa e Braga, 2024) que esteja comprometida com a diversidade de pensamentos, cujas relações sociais e políticas sejam equânimes, a fim de gerar não segregação e distanciamento, mas que seja uma linguística social-política que possa oportunizar discursos da diferença, discursos de equidade, discursos de aproximação e principalmente discursos de respeito onde todes possam ser legitimades em sua integridade de agir e ser/estar no mundo (Hooks, 2020). Palavras-chave: Discurso, Resistência, Corpos Interditados, Pesquisas-vida, Ação.