II ENALA – Encontro Nacional de Linguística Aplicada

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Políticas públicas e educação linguística: dos gabinetes às salas de aula

COORDENAÇÃO: Luciana Maria Almeida de Freitas (UFF)

PARTICIPANTES: Caio Barros Sepúlveda (UFF), Erikson Bruno Mercenas Santos (UFS), Marcela dos Reis Vieira (UFF / UFJV)

RESUMO: Este simpósio tem como propósito possibilitar a discussão sobre políticas públicas em articulação com a educação linguística no Brasil, especialmente em línguas adicionais. Dá continuidade a debates iniciados em outros eventos acadêmicos e reúne pesquisas em andamento na Universidade Federal Fluminense, na Universidade Federal de Sergipe e na Universidade Federal de Juiz de Fora. Entende-se, nesta proposta, a educação linguística, conforme Freitas (2021, p.6), como “um processo escolar que articula a ampliação: (1) da competência linguístico-discursiva do estudante por meio da produção de sentidos, de textos e de reflexões sobre a língua e sobre a linguagem; (2) do pensamento crítico sobre questões socialmente relevantes que se materializam em textos verbais, imagéticos e verbo-visuais”. Já as políticas públicas educativas são consideradas a partir da abordagem do ciclo de políticas proposto por Bowe, Ball e Gold (1992) e por Ball (1994), segundo a qual programas e políticas educacionais são analisadas da sua formulação à sua implementação, ou seja, observa-se sua trajetória dos gabinetes às salas de aula. As pesquisas apresentadas neste simpósio consideram os seguintes pressupostos: o texto como objeto de ensino de línguas na Educação Básica; a aula como acontecimento (GERALDI, 2010) e, portanto, como lugar de construção da cidadania, entendida como “o status daqueles que são membros de uma comunidade e são por ela reconhecidos […] [assim como] o conjunto de direitos e deveres que um indivíduo tem diante da sociedade da qual faz parte” (COSTA e IANNI, 2018, p. 47); a escola como espaço privilegiado para ecoar Epistemologias do Sul e Pedagogias Decoloniais, ampliando a função pedagógica e transformadora da educação, emancipando as sociedades, as culturas e as políticas, em prol de sociedades mais justas e humanas (FREITAS e MENESES, 2021); os documentos curriculares como parte do currículo e, portanto, como construções discursiva, linguísticas, ideológicas e históricas (APPLE, 2008; SILVA, 2007) e como operações glotopolíticas (ARNOUX; LUIS, 2003); as políticas públicas educativas como artefatos que podem permitir avanços ou retrocessos na práxis educativa. Tendo em vista tais pressupostos, o viés teórico-metodológico privilegiado neste simpósio é de natureza discursiva, ancorada na Sociologia do Discurso do Círculo de Bakhtin, Volóchinov e Medviédev (BAKHTIN, 2003; VOLÓCHINOV, 2017, 2019; MEDVIÉDEV, 2012) e pragmática, ancorada na teoria dos atos de fala de Austin (1990), sempre reconhecendo as práticas de linguagem como práticas sociais marcadas por circunstâncias históricas e culturais.

Palavras-chave: Educação linguística. Políticas públicas educativas. Sociologia do discurso. Pragmática.

POLÍTICAS EDUCATIVAS FEDERAIS E EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA NO PERÍODO PÓS GOLPE PARLAMENTAR DE 2016

Luciana Maria Almeida de Freitas (UFF)

O presente trabalho tem o objetivo de apresentar resultados de pesquisas e reflexões sobre políticas públicas educativas do âmbito federal brasileiro implementadas após o golpe parlamentar de 2016, tendo como foco os seus efeitos para a Educação Linguística, especialmente em línguas adicionais, e para a formação docentes. Serão retomadas, com destaque, a chamada Reforma do Ensino Médio instituída pela Lei 13.415/2017, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Resolução CNE/CP n. 2/2019, que instituiu a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação). Entendendo currículo como uma construção discursiva, linguística e histórica e como uma seleção de conhecimentos considerados legítimos (APPLE, 2008; SILVA, 2007), documentos curriculares são também uma operação glotopolítica, assim como normas jurídicas, livros didáticos, gramáticas e dicionários (ARNOUX; LUIS, 2003). Busca-se, portanto, discutir o papel educativo, discursivo e glotopolítico desses documentos, historicizando a relação que têm entre si e com o mundo social tendo como base teórica de linguagem a Sociologia do Discurso do Círculo de Bakhtin, Volóchinov e Medviédev (BAKHTIN, 2003; VOLÓCHINOV, 2017, 2019; MEDVIÉDEV, 2012). Os resultados encontrados indicam que tais políticas são peças da Reforma empresarial da educação (FREITAS, 2018), também chamada de Movimento Global de Reforma Educacional (SALHBERG, 2018), que precariza a educação e leva à sua privatização.

Palavras-chave: Políticas educativas. Educação linguística. Currículo. Reforma empresarial da educação.

 

RELAÇÕES DIALÓGICAS ENTRE DOCUMENTOS DO “MOVIMENTO PELA BASE” E A REFORMA EMPRESARIAL DA EDUCAÇÃO

Caio Barros Sepúlveda (UFF)

O presente trabalho apresenta resultados iniciais produzidos por nossa pesquisa, que se debruça sobre a relação dialógica entre documentos de entidades do chamado “terceiro setor” (PEREIRA, 1997), financiadas e dirigidas por grandes capitalistas, e as reformas educacionais implementadas pelo Estado brasileiro nos últimos anos, centralmente a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2018) e a Reforma do Ensino Médio (BRASIL, 2017). Apresentaremos alguns resultados iniciais obtidos a partir do estudo do guia “Primeiros passos para a aplicação da Base Nacional Comum”, lançado em 2017 pelo “Movimento Pela Base” além da análise da aba “Quem Somos” disponível no site da organização. Realizaremos a análise desse corpus a partir da noção de linguagem da sociologia do discurso (BAKHTIN, 2011; VOLÓCHINOV, 2017, 2019; MEDVIÉDEV, 2012). Nesse sentido, buscaremos compreender os elementos verbais dos enunciados analisados em consonância com a situação extraverbal, isto é, a realidade social, econômica e histórica na qual o discurso se inscreve. Analisaremos os enunciados como resultado da práxis humana, composto pelas disputas e fricções da vida social. Em um primeiro momento, nossa pesquisa busca contextualizar o tempo social e histórico no qual o Movimento pela Base se localiza ao enunciar seus posicionamentos, localizando o discurso na conjuntura mundial aberta com a crise econômica de 2008 e vinculado aos planos de austeridade fiscal preceituados pelo FMI e pelo Banco Mundial. Em seguida, efetuamos a análise dos textos, buscando as relações dialógicas entre o discurso e a realidade sócio-histórica. Nosso objetivo é demonstrar o caráter ideológico e os interesses de classe que permeiam o discurso do Movimento Pela Base, no âmbito do que Freitas (2015) aponta como Reforma Empresarial da Educação.

Palavras-chave: Dialogismo. Sociologia do discurso. BNCC. Reforma do Ensino Médio.

 

PARA ALÉM DO VERBO TO BE: A INVISIBILIDADE DO NEGRO HERDADA PELA COLONIZAÇÃO

Erikson Bruno Mercenas Santos (UFS)

É evidente que os discursos do cotidiano e atos de fala, de forma geral, reproduzem de forma velada (na maioria das vezes) o posicionamento herdado pela colonização, que marca a subalternidade e a desumanidade dos sujeitos que não se enquadram na ontologia moderna ideal esperada pelo sistema. Sabe-se que o negro é invizibilizado enquanto humano, mas automaticamente se torna visível dentro de um contexto selvagem, racializado, primitivo e sexual. Tais considerações começam a emergir nos estudos da linguagem, que buscam examinar as bases do sistema opressivo que reforçam o corpo negro através de marcadores de estereótipos, sendo visto como o não-ser pelos meios de comunicação em nossa sociedade. Tendo em vista esse contexto de análise, se faz necessário atuar através das teorias dos atos de fala desenvolvidas por Austin (1990), que concebe a linguagem como ação, ou seja, performativa, na qual os registros enunciativos não se limitam à função descritiva. Este trabalho visa apresentar praticas educacionais que ocorrem na sala de aula de inglês, pensando o lugar de raça (MELO, 2015) nas discussões com a exposição de vídeos e imagens que possibilitaram levantar debates a partir do letramento critico racial desenvolvidas por Ladson-Billings (1998) e Ferreira (2022) que permite sulear (SILVA JÚNIOR; MATOS, 2019) discussões referentes às normas hegemônicas estabelecidas pela sociedade, assim como também compreender essas relações de poder fortemente enraizadas. As denúncias produzidas através do uso, contexto e interações da linguagem possibilitam problematizar as estruturas hegemônicas, uma forma de compreender e tornar visíveis as dinâmicas de opressão presentes na atualidade, e sobretudo pensar formas mais humanas de estabelecermos vivências através da política do afeto, compreendendo outras ontologias não como diferentes pela relação de alteridade, mas por meio da diversidade de existências.

Palavras-chave: Educação linguística. Ensino de inglês. Linguagem como ação. Raça. Sulear.

 

AQUÍ ESTAMOS DE PIE: RESISTÊNCIA INDÍGENA NA SALA DE AULA DE LÍNGUA ESPANHOLA

Marcela dos Reis Vieira (UFF / UFJV)

Esta comunicação é fruto do trabalho desenvolvido como docente do Colégio Universitário Geraldo Reis (COLUNI/UFF), onde leciono o componente curricular língua espanhola, e objetiva compartilhar reflexões epistêmicas, propostas e alternativas didáticas para a educação linguística na Educação Básica. Parto da pesquisa voltada à análise discursiva e à decolonialidade, através de textos orais e escritos que abordam aspectos histórico-culturais dos povos originários do continente americano e que reivindicam uma memória coletiva apagada/silenciada por uma única versão da narrativa social. Tal investigação, justifica-se pela urgência em visibilizar linguagens e discursos outros que são mobilizados para tratar a questão indígena referente à disputa pela posse dos territórios, por sua autonomia, preservação, respeito à identidade cultural, reconhecimento da trajetória de luta, resistência destes povos ao longo dos séculos de usurpação e exploração ocidental. Portanto, a pergunta que se pretende responder é: por que é importante colocar no centro das escolhas temáticas as resistências indígenas na Educação Básica e quais linguagens são incitadas para tal prática pedagógica. O referencial teórico considerado são os estudos sobre a pedagogia como prática da liberdade (FREIRE, 2018), em diálogo com a Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006; CADILHE, 2020), Estudos e Pedagogias Decoloniais (QUIJANO, 2000; 2017; WALSH, 2013), Educação Intercultural e Suleadora (MATOS; PARAQUETT, 2018), Colonialidades e Violências (FANON, 2022), bem como a literatura sobre ancestralidade e valores indígenas (KRENAK, 2022). Como base metodológica, tomo a abordagem qualitativa de análise interpretativista dos textos apresentados, por se tratar de materiais multissemióticos, que refletem os problemas que atravessam o continente. Sendo assim, busca-se colocar em diálogo propostas didáticas aplicadas em sala de aula, a fim de responder o questionamento feito acima. Logo, espera-se que esta comunicação contribua para uma demanda social de revisão histórica e discursiva sobre os povos fundadores do continente e que coloque em debate o valor político-ideológico na formação de professores de línguas.

Palavras-chave: Educação Linguística. Língua Espanhola. Análise do Discurso. Decolonialidade. Povos Originários.

Luciana Maria Almeida de Freitas
Docente da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem, na Linha de Pesquisa Teorias do Texto, do Discurso e da Tradução, e na Graduação em Letras, lecionando Pesquisa e Prática Educativa, tanto de Língua Portuguesa, quanto de Língua Espanhola e de outras línguas adicionais. É doutora em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos – Língua Espanhola) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestra em Letras (Linguística) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, bem como licenciada em Letras (Português-Espanhol) e licenciada e bacharel em História. Realizou estágio pós-doutoral na Facultad de Ciencias de la Educación da Universidad de Sevilla, Espanha, e no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFF. Lidera o Grupo de Pesquisa Discurso e Educação Linguística – DELIN. Foi presidenta da APEERJ – Associação de Professores de Espanhol do Estado do Rio de Janeiro e da ABH – Associação Brasileira de Hispanistas, sempre atuando intensamente em defesa da educação linguística em língua espanhola no Brasil. É autora de artigos e capítulos de livros, organizadoras de obras acadêmicas e coautora de obras didáticas. Suas investigações envolvem questões relativas à educação linguística e à formação docente, especialmente em espanhol, sob a perspectiva teórica da sociologia do discurso do Círculo de Bakhtin. É representante do Rio de Janeiro no Movimento Fica Espanhol Brasil. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3469415644515412. E-mail: lucianafreitas@id.uff.br,

Caio Barros Sepúlveda
Licenciado em Letras (Português-Literaturas) e mestrando no Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal Fluminense (UFF). É bolsista da CAPES e atua como profissional de Educação na rede municipal de São Gonçalo (RJ). É membro do Grupo de Pesquisa Discurso e Educação Linguística – DELIN e tem interesse em temas como sociologia do discurso, dialogismo e políticas públicas educacionais. Lattes: https://lattes.cnpq.br/1187610706322174. E-mail: caiosepulveda@id.uff.br.

Erikson Bruno Mercenas Santos
Doutorando e Mestre em Estudos Linguísticos pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Sergipe (PPGL/UFS). Atualmente é professor substituto de Língua Inglesa pela Secretária de Estado de Sergipe (SEDUC/SE). Integrante do Grupo de Pesquisa “DInterLin: Diálogos Interculturais e Linguísticos”, desenvolvendo pesquisas na área de Linguística Aplicada, focando os seguintes temas: decolonialidade, epistemologias do sul, identidades brancas e negras em comunidades tradicionais de terreiro. Iniciado em 2020 para o Candomblé de Nação Nagô-Ketu, mas pertencente às comunidades tradicionais de terreiro há mais de 10 anos. Lattes: http://lattes.cnpq.br/6315949638194969. E-mail: erikson.ufs@gmail.com.

Marcela dos Reis Vieira
Professora de Língua Espanhola no Colégio Universitário Geraldo Reis – UFF, doutoranda no programa de Pós-graduação em Linguística, eixo temático em Linguagens e Humanidades – UFJF. É mestre em Investigaciones Humanísticas y Educativas, linha de pesquisa em Literatura Hispano-americana pela Universidad Autónoma de Zacatecas (UAZ) – México, período em que também realizou mobilidade acadêmica para pós-graduandos no Centro de Investigaciones y Estudios de Género da Universidad Nacional de México (UNAM). É licenciada em Letras – Espanhol e Literaturas (2015) e Filosofia (2009), ambas pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Atua na área de ensino de línguas, com experiência em língua espanhola e português como língua adicional para hispano-falantes e literatura hispano-americana. Atualmente, é membro do Grupo de pesquisa Linguística Aplicada, Educação e Direitos Humanos (LAEDH). Lattes: http://lattes.cnpq.br/1427057043326383. E-mail: marcelavieira@coluni.uff.br.