II ENALA – Encontro Nacional de Linguística Aplicada

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Libras como segunda língua para ouvintes: transformações nos processos de ensino e aprendizagem

COORDENAÇÃO: Lídia da Silva (UFPR), Patrícia Cristina de Frutos Ramirez (UNIPAMPA)

PARTICIPANTES: Rozana Maria Haiduki dos Santos (UFPR), Felipe Augusto Chmura (UFPR), Lico Macelino Bazerra (UFPR), Luana Trombini Marcelino (UFPR), Emanuelle Regina da Rocha Dias (UFPR), Verônica de Jesus Blanc (UFPR), Marcelo Porto (UFPR), Clóvis Batista de Souza (UFPR).

RESUMO: Devido aos movimentos sociais e políticos da comunidade surda brasileira, em 2002, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) teve seu estatuto reconsiderado e o seu reconhecimento oficial pela Lei Federal 10.436, bem como as políticas públicas engendradas pelo Decreto Federal 5626 de 2005, que a regulamenta, representaram e ainda representam um importante incentivo ao substancial aumento de pessoas ouvintes interessados em aprendê-la. Todavia as pesquisas sobre os processos pedagógicos envolvendo a Libras como segunda língua não cresceram na mesma proporção. Por conta disso, faz-se necessário um olhar mais atento às questões metodológicas, especificamente, às estratégias didáticas que podem potencializar a aquisição de uma língua de modalidade visuo-manual por falantes de português cuja modalidade é oral-auditiva. Objetivando fomentar essas investigações, o diálogo e a reflexão entre pesquisadores da área, é que se propõem este simpósio. Especificamente, o simpósio pretende incentivar o debate sobre as possibilidades de TransFormAções nos processos de ensino e aprendizagem em diferentes contextos instrucionais (ensino fundamental, ensino médio, ensino superior e curso livre) e por meio do uso de distintos recursos: objetos de aprendizagem, SW, plataformas virtuais, material didático. A apresentação de Rozana Maria Haiduki dos Santos, Felipe Augusto Chmura Lico Macelino Bazerra, Luana Trombini Marcelino e Emanuelle Regina da Rocha Dias discorrerá sobre o processo de elaboração de um material didático autoral – nível básico – o qual destina-se ao público do ensino médio profissionalizante. Como se verá, o MD é de abordagem comunicativa e pelo oferecimento de variados conteúdos linguísticos e culturais visa habilitar os cursistas para a prática social e interação com pessoas surdas. O trabalho sobre o uso do signwritting no ensino da Libras, de Verônica de Jesus Blanc, visa apresentar a aplicação de uma unidade temática (UT) em um curso de nível intermediário. A pesquisadora demonstrará que a escrita em signwritting é uma possibilidade de expansão da aprendizagem para ouvintes aprendizes de Libras como L2. Marcelo Porto discutirá as contribuições do uso de objetos de aprendizagem (AO) para o ensino da Libras aos licenciados e, atestará que o recurso pode ser potencializado a depender da didática empregada pelo professor. Também explicará, com base em Sousa et all (2020), as habilidades linguísticas e comunicativas que são indicadas para o nível A1 e exporá os resultados de uma pesquisa-ação realizada com estudantes de filosofia. Por fim, a apresentação de Clóvis Batista de Souza tratará da questão das interações online nas aulas de Libras como L2 para ouvintes. O pesquisador irá apresentar uma pesquisa realizada por meio da análise documental e do método observacional na qual se verificou os principais desafios nas interações ocorridas nas aulas de Libras as quais foram ministradas em contexto de ensino fundamental por cinco bolsistas do Curso de Letras Libras.A articulação dos trabalhos sinaliza para a reflexão sobre os impactos do ensino e aprendizagem da Libras para a vida de pessoas surdas e ouvintes.

Palavras-chave: Libras. L2. Metodologia. Recursos didáticos. Contextos instrucionais.

A COMUNIDADE SURDA E A SUA LÍNGUA: UMA PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO PARA O ENSINO DE LIBRAS

Rozana Maria Haiduki dos Santos
Felipe Augusto Chmura
Lico Macelino Bazerra
Luana Trombini Marcelino
Emanuelle Regina da Rocha Dias

Este trabalho tem o objetivo de relatar as ações de ensino da Libras que foram oferecidas para estudantes de uma escola pública em Morretes/PR. Para tanto, ancora-se no modelo de aquisição de L2 de Ellis (1998), no ensino explícito de Gauthier (2014) e nos pressupostos da espacialização de Silva (2018). A metodologia adotada é a pesquisa-ação e se dividiu entre elaboração e aplicação de material didático (MD). Neste trabalho, vamos apresentar os resultados relativos à primeira. O MD foi desenvolvido para ser aplicado em 80h de forma presencial, com encontros diários de 4 horas de duração, para estudantes do ensino médio profissionalizante e visa habilitar os cursistas para a competência comunicativa em nível básico. O MD desenvolvido tem por título “A comunidade surda e a sua língua”, conta com 7 capítulos. Os capítulos são os seguintes: 1) as pessoas surdas são diferentes, 2) os surdos têm voz, 3) Os surdos têm um nome em Libras, 4) os surdos têm uma cultura própria, 5) Os surdos têm identidades, 6) os surdos têm arte e literatura e 7) os surdos sentem. A estrutura de cada capítulo segue a seguinte ordem após o trabalho com compreensão do input oferecido: (i) aprendendo vocabulários, (ii) um pouco de gramática, (iii) diálogo, (iv) espacialização da Libras, (v) vamos jogar? (vi) hora da dinâmica e (vii) desafio. O MD é bilíngue pois contêm comandos em Libras e em português e foi gratuitamente distribuído aos cursistas. Os conteúdos inseridos foram (i) vocabulários extraídos do vídeos-referência (ii) negação, configuração de mão, expressões faciais, temporalidade, plural, movimento, ponto de articulação e boias, (iii) associação de pontos no espaço, produção morfossintática e referenciação por meio do corpo. Além disso, jogos e dinâmicas são oferecidos como forma de fixação dos conteúdos e para incentivar o output e oportunizar o feedback.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino; Libras; Escola; Material didático

Esta pesquisa faz parte do projeto “Libras na escola – oportunidade de aprendizado e promoção da inclusão” vinculado ao Programa Universidade sem Fronteira – gerido pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SETI/UGF e financiado com recursos do Fundo Paraná.

 

O USO DO SIGNWRITTING NO ENSINO DA LIBRAS COMO SEGUNDA LÍNGUA PARA OUVINTES

Verônica de Jesus Blanc

Este trabalho analisa o uso do signwritting no ensino de Libras como L2 para aprendizes ouvintes. Ancora-se em Barreto e Barreto (2012) e Klimsa, Sampaio e Klimsa (S/A) para apresentar o histórico, a estrutura básica e o funcionamento do signwritting. Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa-ação com coleta de dados realizada junto a uma turma de adultos participantes do nível intermediário de um curso livre na qual uma unidade temática (UT) que visava o ensino da língua sinalizada concomitante ao da sua escrita foi aplicada. A Unidade Temática (UT) em questão, chama-se “Os surdos têm voz” e visa ensinar vocabulário, gramática e conteúdo cultural e também o registro escrito dos parâmetros fonológicos (configuração de mão, ponto de articulação, movimento, expressões faciais, orientação da palma) da Libras. A UT foi concebida sob as bases do EBT (Ensino Baseado em Tarefas) que é uma abordagem metodológica que entende que a tarefa proporciona um contexto situacional específico e um motivo para adquirir a língua tal como ocorre no mundo real. Os nossos resultados indicam que a escrita em signwritting é favorável à memorização de vocabulários e que a leitura é bastante custosa. Conclusivamente, aponta que se o signwritting for ensinado em situações adequadas ele pode colaborar à L2 e que uma UT com conteúdo de dois sistemas (Libras e SW) é uma possibilidade de expansão da aprendizagem.

PALAVRAS-CHAVE: Signwritting. Libras. L2.

 

CONTRIBUIÇÕES DO USO DE OBJETOS DE APRENDIZAGEM (OA) PARA O ENSINO DA LIBRAS NA GRADUAÇÃO

Marcelo Porto

Este trabalho tem o objetivo de verificar as contribuições do uso de OA durante as aulas de Libras para o desenvolvimento das habilidades linguísticas e comunicativas em aprendizes da graduação. Ancora-se em Alves (2023) para discutir a caracterização da disciplina de Libras no ensino superior, em Souza, Araújo e Mattes (2023) para conceituar objetos de aprendizagem (OA)e em Sousa et all (2020) para discorrer sobre as habilidades linguísticas e comunicativas indicadas para o nível A1. O trabalho tem viés metodológico na pesquisa-ação por meio da qual realizou-se uma intervenção em uma turma de licenciatura em filosofia da Universidade Federal do Paraná. O objetivo pedagógico da intervenção foi possibilitar o desenvolvimento das habilidades linguísticas e comunicativas em Libras, nível A1, nos licenciandos e o objetivo investigativo foi analisar a contribuição dos OA. A intervenção contou com 11 aulas (1h cada) ministrada por acadêmicos do Letras Libras que foram orientados pela professora do estágio. Cada aula foi desenvolvida, em Libras, tendo um OA como norteador das tarefas, do encaminhamento metodológico e da avaliação. Foram vários os instrumentos utilizados para coleta de dados, tais como: diário de bordo, planos de aulas, slides utilizados durante as aulas, questionário para os alunos da turma, grelha de avaliação dos licenciandos e tarefas em vídeo produzidas pelos aprendizes. Os resultados são parciais e indicam que o uso dos OA favoreceu a compreensão e a produção de vocabulários e frases simples, mas não a elaboração de perguntas e oferta de respostas. A causa dos resultados pode ser atribuída, além do perfil da turma, à didática dos estagiários, especificamente, à dificuldade de estabelecimento de interação. Conclusivamente, aponta que os OAs são importante ferramenta para o desenvolvimento das habilidades linguísticas e comunicativas na disciplina Libras, porém a forma que o professor o utiliza faz a diferença na sua contribuição.

PALAVRAS-CHAVE: Libras. L2. Licenciatura. Objetos de Aprendizagem.

 

INTERAÇÕES ONLINE NAS AULAS DE LIBRAS COMO SEGUNDA LÍNGUA: UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL

Clóvis Batista de Souza

Este trabalho aborda a questão das interações online nas aulas de Língua Brasileira de Sinais (Libras) como segunda língua (L2) para ouvintes. Ancora-se em Rioult, Marron e Pereira (2021), para tratar do ensino virtual em tempos de pandemia e destaca o distanciamento psicológico e comunicacional que a comunicação mediada por computador pode oferecer às aulas. Toma as considerações de Xavier (2001) para descrever as características das interações em L2 e aponta as especificidades do input e da produção linguística para as aulas de Libras. Por meio da análise documental e do método observacional, são elencados os principais desafios verificados nas interações ocorridas nas aulas de Libras as quais foram ministradas em contexto de ensino fundamental por cinco bolsistas do Curso de Letras Libras. Os resultados da experiência pedagógica analisada mostram que gerenciar a participação de intérpretes de Libras e surdos oralizados durante as interações online nas aulas de Libras é uma tarefa bastante desafiante, assim como a administração do uso adequado de suportes visuais (câmeras, telas e chat). Conclusivamente, este trabalho aponta que a experiência de ensino de Libras como segunda língua no ensino fundamental, realizada no período pandêmico, revelou diferentes desafios linguísticos e técnicos para a interação buscada, os quais precisam ser superados a fim de que as aulas, tanto remotas quanto presenciais, apresentem a qualidade necessária para alcançar seus objetivos de aprendizado.

PALAVRAS-CHAVE: interação; Libras; segunda língua; ensino fundamental; Covid-19.

​​​​​​​Lídia da Silva
Possui mestrado e doutorado em Linguística (UFSC, 2018). No mestrado investigou o processo de aquisição de Libras e no doutorado estudou a relação entre a fluência na sinalização e o conhecimento espacial. É vice-líder do Grupo de Estudo e Pesquisa de Libras como L2 (GEPELS/CNPq/UTFPR) onde conduz e orienta estudos sobre ensino, aprendizagem e avaliação de Libras para ouvintes. Atua na liderança da linha de pesquisa Libras como L2 no Grupo de Pesquisa em Educação Linguística (GPELIN/CNPq/UFPR) e nesta conduz investigações sobre a aquisição e instrução de Libras para ouvintes. É professora efetiva do Curso de Graduação em Letras Libras da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Línguas da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Coordena o NEL – Núcleo de Ensino de Libras – através do qual, pela via da extensão universitária, propaga a Libras à comunidade curitibana. É membro da Associação Brasileira de Linguística Aplicada (ALAB) e da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN). Contato: lidiaufpr@gmail.com.

Patrícia Cristina de Frutos Ramirez
Praduada em Letras/Libras e Pedagogia, especialista em Educação Especial e Libras; mestranda do Programa de Pós-graduação em Ensino de Línguas da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) onde desenvolve pesquisa sobre o ensino de Libras como L2, em dissertação orientada pela professora doutora Lídia da Silva. É professora de Libras, professora da Educação Bilíngue para Surdos (Libras/Língua portuguesa); intérprete de Libras; especialista em Atendimento Educacional Especializado com alunos surdos, ouvintes e outras especificidades; professora de séries iniciais; experiência em Tutoria do Curso em Atendimento Educacional Especializado; Professora cedida pela Secretaria de Ensino (40 horas) de Rio Grande, para a Secretaria de Ensino de Bagé, atuando na Escola Bidart no Atendimento Educacional Especializado com alunos ouvinte e surdos e na zona rural também, no atendimento individualizado, preparação, confecção e adaptação de material para fins de aprendizagem nas séries iniciais e EJA. Contato: patri.defrutos@hotmail.com

​​​​​​​Rozana Maria Haiduki dos Santos
Estudante do Curso de Licenciatura em Letras Libras da Universidade Federal do Paraná
email: haidukirs@gmail.com, lattes: http://lattes.cnpq.br/9429405487056924

Felipe Augusto Chmura
Estudante do Curso de Licenciatura em Letras Libras da Universidade Federal do Paraná
email ufprfelipechmura@gmail.com, lattes  http://lattes.cnpq.br/5958877963768314

Lico Macelino Bazerra
Professor de Libras, graduado em Licenciatura em Letras Libras pela Universidade Federal do Paraná
email lico.ufpr@gmail.com, lattes   http://lattes.cnpq.br/3842703810462974

Luana Trombini Marcelino
Estudante do Curso de Licenciatura em Letras Libras da Universidade Federal do Paraná
email luana.trombini@hotmail.com, lattes  http://lattes.cnpq.br/2014023837615206

Emanuelle Regina da Rocha Dias
Estudante do Curso de Licenciatura em Letras Libras da Universidade Federal do Paraná
email rochamanu569@gmail.com, lattes  http://lattes.cnpq.br/3929831636044406

Verônica de Jesus Blanc
Licenciada em Letras Libras pela Universidade Federal do Paraná, professora de Libras como segunda língua para ouvintes.
Email vjblanc@gmail.com

Marcelo Porto
Professor do curso de Letras Libras da Universidade Federal do Paraná, professor da disciplina de Libras para as licenciaturas da mesma universidade. Mestre e doutorando do Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador do GEPELS/CNPq. Email porlopes@gmail.com

Clóvis Batista de Souza
Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR, Brasil: Contato: clovis.souza@ufpr.br. Mestre em Estudos Linguísticos pela UFPR, professor do Curso de Letras Libras, pesquisador no GEPELS/DGP/CNPq onde desenvolve e orienta estudos relativos à temática.