Geral
COORDENAÇÃO: Simone Natividade Santos (UFAL)
PARTICIPANTES: Ana Luzia Azevedo Fireman (IFAL), Josenilda Rodrigues de Lima (UFAL), Marcos Diego de Lima Silva (UFAL)
RESUMO: Este simpósio tem como objetivo debater propostas de cunho educacional, no âmbito da Análise do Discurso (AD). Estabelecemos interlocução com autores de ampla envergadura teórica na AD, tais como: Courtine (2006), Orlandi (2007, 2012, 2014), Pêcheux (1975, 1990, 1983). Os trabalhos aqui mencionados dialogam com diferentes abordagens veiculadas no discurso publicitário, jurídico, religioso e científico. Transitaremos pelo discurso anti-científico dos ministros da educação na era Bolsonaro e como o discurso negacionista se destacou em seus mandatos resgatando posturas que entraram em choque com a ciência brasileira, a produção de conhecimento e as universidades. Em seguida abordaremos o discurso religioso de caráter dogmático e ultraconservador que com a crescente expansão da extrema-direita conservadora defensora da família tradicional não só no Brasil, mas também, nos Estados Unidos, países europeus e América Latina acaba rompendo com o Estado laico e a liberdade religiosa. Nesse sentido, este cenário afeta substancialmente o campo educacional levando escolas a serem influenciadas negativamente ao censurar livros, além dos assuntos abordados em sala de aula fazendo com que o aluno não tenha uma formação promissora, panorama este que compromete diretamente a democracia. Dando prosseguimento, resgatamos também o discurso jurídico, em particular a análise do silenciamento acerca das questões étnico-raciais em alguns instrumentos normativos, especificamente a Constituição Federal de 1824 e alguns decretos do período imperial e do início do século XX, cujos dizeres são ressignificados na atual Reforma do Ensino Médio e Base Nacional Comum Curricular – BNCC. O estudo aponta que alguns desses instrumentos normativos não citam a pessoa negra como cidadã de direito, o currículo fragmentado pela Reforma do Ensino Médio impacta negativamente sobre o ensino de história afro-brasileira e ao direito de obter os conhecimentos socialmente produzidos pela humanidade. Dando continuidade aos trabalhos temos também, o discurso publicitário impresso no Programa Institucional “Itaú educação e trabalho” anunciado pela Fundação Itaú para Educação e Cultura que defende ações voltadas para as políticas de Educação Profissional e Tecnológica. Este programa propõe uma formação profissional que é um verdadeiro simulacro, pois mascara suas verdadeiras intenções, ou seja, oferta uma educação que abraça uma formação digna, mas que na verdade pretende manter o status quo preservando a conservação das desigualdades sociais e priorizando o lucro. Portanto, os trabalhos supracitados demonstram uma espécie de confronto ideológico fazendo do discurso educacional um campo de disputas em que a resistência sempre esteve presente. Nos últimos anos a extrema-direita alimentou discursos de natureza opressora, autoritária em que o ultraneoliberalismo demarcou seu espaço acarretando na desconstrução do que vem a ser uma formação humana, ética e democrática.
Palavras-chave: Ciência Brasileira. Discurso Educacional. Discurso Jurídico. Estado Laico. Questões Étnico- Raciais.
Simone Natividade Santos (UNEAL)
A presente pesquisa é um recorte da minha tese defendida em 2023, no doutorado em Linguística, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Linguística e Literatura – PPGLL pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL. O trabalho teve como objetivo resgatar os discursos dos cinco ministros da Educação, durante o governo Bolsonaro (2019 a 2022). O estudo teve como aparato teórico, autores que se conectam a Análise do Discurso de linha pecheuxtiana, tais como: Courtine (2006), Henry (1997), Orlandi (2013, 2014) e Pêcheux (1975). Metodologicamente, se trata de uma pesquisa qualitativa em que elencamos materialidades discursivas oriundas da revista Veja, rede social Twitter, Jornal Folha de São Paulo. Nesse sentido, esta pesquisa se torna relevante ao mostrar uma conjuntura conflituosa no ponto de vista educacional, econômico e político no que se refere ao discurso negacionista presentes nos pronunciamentos dos cinco ministros da educação. A extrema-direita assentada no ultraneoliberalismo teve posturas em defesa do dualismo educacional em que para a classe trabalhadora deveria ser ofertado o ensino profissionalizante e para a elite o ensino universitário. Este governo sempre abominou que os conhecimentos não fossem repassados para a classe subalterna, pois isso se tornaria uma ameaça para a conservação do status quo, ou seja, quanto mais sujeitos ignorantes intelectualmente melhor, pois assim, o controle governamental ganhariam êxito. Como resultados finais foi recorrente o ataque à ciência e universidade, o campo da pesquisa foi duramente ameaçado, inúmeros cortes de verbas nos órgãos de fomento como CNPQ, CAPES dentre outros geraram uma crise acadêmica/científica, uma vez que as pesquisas em andamento eram abruptamente estagnadas fazendo com que a ciência brasileira não se desenvolvesse, não evoluísse. Portanto, neste governo predominou discursos que defendiam o anti-intelectualismo tendo como desfecho a ciência duramente atacada gerando disputas de fundo ideológico.
Palavras-chave: Ciência. Discurso Negacionista. Dualismo Educacional. Ultraneoliberalismo Universidade.
Ana Luzia Azevedo Fireman (IFAL)
O Estado Democrático de Direito visa a garantir, dentre outros bens, a liberdade e a pluralidade de ideias, de opinião, de crenças, de expressão, a diversidade étnica, política e religiosa. Por conseguinte, um de seus pilares é a laicidade. O Estado precisa ser laico para garantir a liberdade de cada um de escolher suas próprias crenças; precisa ser laico para garantir a diversidade religiosa e a coexistência de crenças diferentes, inclusive do ateísmo; precisa ser laico para que ninguém seja impedido de fazer algo em razão de suas crenças ou de crenças alheias; precisa ser laico para garantir a tolerância em relação às diferenças de pensamento e de crenças; precisa ser laico para que todas as religiões sejam igualmente respeitadas. Ademais, o Estado não pode privilegiar uma composição familiar, a família “tradicional” constituída por um homem e uma mulher, em detrimento de outras, deixando-as à margem da proteção legal. O conceito de família não pode estar adstrito a concepções religiosas, a dogmas de uma determinada Igreja. A sociedade brasileira é plural. Todavia, com o avanço de uma extrema-direita conservadora, com um discurso religioso dogmático de defesa dos costumes e da “família tradicional”, presenciamos hoje um estreitamento entre Estado e religião não só no Brasil, mas em vários países europeus, nos Estados Unidos e na América latina. Esse fenômeno tem impacto significativo na área da educação, pois o discurso religioso ultraconservador de boa parte da sociedade tem levado escolas a censurar livros e conteúdos, comprometendo a formação do estudante, enfraquecendo a democracia. Diante disso, este estudo tem por objetivo analisar o discurso religioso ultraconservador e seus impactos na área de Educação. Para tanto, utilizaremos como base as teorias e as metodologias interpretativas da Análise do Discurso alicerçada no materialismo histórico, sobretudo a partir de Pecheux, Foucault e Orlandi.
Palavras-chave: Democracia. Discurso religioso. Educação.
Josenilda Rodrigues de Lima (UFAL)
Apresentar reflexões sobre a Reforma do Ensino Médio (REM), abordando o silenciamento discursivo sobre as questões étnico-raciais e a luta por uma educação antirracista. A fragmentação curricular provocada pela REM e, consequentemente, a não obrigatoriedade de oferta de todas as áreas de conhecimento podem impactar sobre o ensino de história afro-brasileira e sobre o direito dos jovens negros e pobres ao acesso à educação escolarizada e aos conhecimentos socialmente produzidos pela humanidade. É preciso puxar o fio da memória discursiva sobre o direito à educação no Brasil para que possamos compreender como as políticas educacionais e as constantes reformas produzem silenciamentos e reestabelecem o viés colonialista de ensino-aprendizagem, negando direitos sob um discurso de novidade. Alinhando-se à Análise do Discurso pecheutiana, analisaremos discursividades materializadas em alguns instrumentos normativos que tratam sobre o direito à educação, desde o período colonial até a atual REM. Dialogaremos com Pêcheux (2014); Orlandi (2007); Frigotto (2017); Cavalleiro (2021); Gomes (2023), entre outros autores. Conclui-se que o discurso da “utilidade” dos jovens estudantes para o mercado de trabalho é retomado nessa reforma e, no bojo, discussões sobre questões étnico-raciais e diversidade podem ser silenciadas no contexto escolar, com uma educação esvaziada e utilitarista.
Palavras-chave: Discurso e educação. Questões étnico-raciais. Reforma do Ensino Médio. Silenciamento. Memória discursiva.
Marcos Diego de Lima Silva (UFAL)
Este trabalho tem como objetivo analisar o discurso presente no Programa institucional “Itaú educação e trabalho”, que diz apoiar a implementação de políticas de Educação Profissional e Tecnológica que passou a integrar a educação básica de nível médio com reforma do ensino médio. O referido programa, por sua vez, divulga propagandas institucionais calcadas no discurso que afirma contribuir, através da articulação entre educação e trabalho, para que as juventudes brasileiras tenham igualdade de oportunidades e uma trajetória de vida digna. Como respaldo teórico, nos alinhamos à Análise de Discurso de vertente pecheuxtiana, dialogando com os seguintes autores: Orlandi (1999 e 2005) e Pêcheux (2002, 2009 e 2011). Posto isto, metodologicamente, elegemos materialidades discursivas oriundas do programa institucional “Itaú Educação e Trabalho” divulgado pela Fundação Itaú para Educação e Cultura. Como resultado parcial, observamos que as materialidades selecionadas a partir do referido programa estão pautadas em interlocuções sociais, gerando sentidos particulares em cada situação investigada, assim como no exercício de um poder que utiliza uma linguagem de estratégias, direcionada a conflitos, contradições, visando unicamente ao poder de convencimento para gerar lucro, e para assegurar a manutenção das desigualdades sociais.
Palavras-chave: Discurso. Educação. Propaganda. Políticas Públicas. Sentidos
Simone Natividade Santos
Doutora em Linguística pelo PPGLL, Mestre em Educação pelo PPGE, Especialista em Educação em Direitos Humanos pelo PPGE, Graduada em Letras pela FALE, os quatro títulos obtidos no âmbito da Universidade Federal de Alagoas. Integrante do grupo de pesquisa em Discurso e Ontologia- GEDON (CNPQ/UFAL). Grupo de Pesquisa: Trabalho, Estado, Sociedade e Educação – GP-TESE.(CNPQ/UFAL). Coordenadora do curso de Letras da Faculdade Impacto. Formadora e Docente de Leitura e Produção de texto no curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL. É Avaliadora do Mestrado Profissional de Ensino de Saúde e Tecnologia/ UNCISAL. Durante o período de 2017 a 2018 foi professora substituta do Instituto Federal de Alagoas – IFAL, campus: Maceió. Pesquisadora nos seguintes temas: ciência, discurso educacional e discurso político. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2338530946333954
E-mail: simone.natividade.sp@gmail.com.
Ana Luiza Azevedo Fireman
Graduada em Letras/Linguística/Espanhol (UFAL); Mestra em Crítica Literária Sociocultural (UFAL); Doutora em Linguística, com concentração em Análise do Discurso (UFAL). Professora Efetiva do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – lotada no Campus Piranhas. Coordenadora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IFAL, Campus Piranhas. Membro do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI) do IFAL, Campus Piranhas. Em pesquisa, atua principalmente nos seguintes temas: crítica sociocultural, análise do discurso, discurso e poder, comportamento sociocultural e linguagem, diversidade, educação. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6829739509476632
E-mail: ana.fireman@ifal.edu.br
Josenilda Rodrigues de Lima
Doutoranda em Linguística e Literatura (PPGLL/UFAL). Mestra em Educação (UFAL/2019). Especialista em Gênero e Diversidade na Escola (UFAL/2016). Graduada em Serviço Social (UFAL/2013). Integra o quadro de servidores da Universidade Federal de Alagoas. Atuou como docente da disciplina História Afro-brasileira e Africana, nos cursos de graduação em Matemática e em Física da Universidade Federal de Alagoas, pelo sistema da Universidade Aberta do Brasil (UAB/UFAL). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa: Discurso e Ontologia – Gedon, do Programa de Pós-graduação em Linguística e Literatura (PPGLL/UFAL). Pesquisa principalmente sobre os seguintes temas: Políticas Públicas; Análise do Discurso de vertente francesa pecheuxtiana; História da educação brasileira (com ênfase no Ensino Médio); Relações Étnico-raciais; Gênero e Diversidade. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5806546149817518. E-mail: josenilda.lima@fale.ufal.br.
Marcos Diego de Lima Silva
Mestrando em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Literatura – (PPGLL /UFAL); Graduado em Letras/Português pela Faculdade de Letras – (FALE/UFAL); Bacharel em Direito pelo Centro Universitário CESMAC. Atualmente é membro-pesquisador e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL); Participa do Grupo de Estudos e Pesquisa Discurso e Ontologia (GEDON/UFAL) e do Grupo Análise do Discurso Jurídico (CESMAC/GPAD/CNPQ). Suas pesquisas e produções acadêmicas são desenvolvidas nas áreas de Linguística e Ciências Jurídicas na linha de pesquisa em Análise de Discurso pecheuxtiana, tendo ênfase nos estudos sobre: Políticas públicas, história e discurso; Educação; Propaganda e mídias sociais; Reforma do ensino médio; Reforma trabalhista; Direito do Trabalho e Direitos Humanos. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4427339422030366
E-mail: